Ao longo das diferentes idades, a criança vai desenvolvendo medos que estão, muitas vezes, ligados a situações comuns do dia-a-dia que, por uma razão ou por outra, vão de encontro às fragilidades de determinada fase do desenvolvimento. Estes receios são partilhados por muitas crianças e na grande maioria dos casos, são ultrapassados naturalmente.
A tarefa de enfrentar os seus desafios e conquistar autonomia cabe á criança. No entanto, os pais têm um papel central no desenrolar desta conquista. Pais que apoiam a criança, estando presentes e criando um ambiente seguro e tranquilizante são os maiores aliados que a criança poderá encontrar.
Existem diversas formas, através das quais podemos dar à criança o suporte que ela necessita para se autonomizar. Aqui ficam algumas ideias:
Transmita à criança bastante informação
É muito importante explicar à criança, de forma adequada à sua idade, o modo como o mundo funciona e como acontecem as coisas que ela considera assustadoras. Apropriar-se de informação vai permitir-lhe tornar previsível o que antes era assustador e sentir-se mais confiante. Por exemplo, a uma criança pequena que está transtornada por causa de um balão ter rebentado, podemos dizer “Estás assustada por causa do ruído que o balão fez ao rebentar. Sabias que balões são muito divertidos para brincar mas quando se estragam fazem um barulho muito alto? É como se nos estivessem a dizer adeus”. Esta explicação simplista vai permitir que a criança faça algum sentido do que antes era um som imprevisível.
Com crianças em idade escolar e adolescentes podemos fazer uso da internet para os ajudar a descobrir informações sobre os seus receios, como por exemplo, como se formam as catástrofes naturais ou quais os recursos existentes na vossa área de residência. Esta é também uma excelente forma de criar um espaço para a criança partilhar os seus receios consigo e sentir-se apoiada. Deverá no entanto, ter a preocupação de pesquisar fontes credíveis e que transmitam informação útil e sem alarmismo.
Conheça e ensine os sintomas físicos da ansiedade
Cada pessoa reage á ansiedade de forma diferente. Aprenda a distinguir o conjunto de sintomas de ansiedade da criança e ensine-lhos para que ela possa ganhar uma maior sensação de confiança e controlo sobre a situação. Para ultrapassar uma crise, é vital que a criança saiba que é natural não se sentir sempre bem e que a ansiedade pode fazer com que, por exemplo, vomite ou que o seu coração bata muito depressa, mas que isso não é sinal de que está doente ou que algo de mal lhe vá acontecer, é apenas reflexo do medo que sente e vai passar rapidamente.
Dê nome aos medos
O primeiro passo para conquistar qualquer dificuldade é reconhecer a sua existência. Ao ensinarmos as crianças desde cedo a nomear e a falar sobre as suas emoções, positivas e negativas, estamos a dar um contributo inestimável para o seu desenvolvimento saudável e ajustado pois aumentamos a sua capacidade de identificar e gerir os seus estados emocionais. No que respeita ao medo, devemos dar espaço à criança para se expressar livremente sobre o que a preocupa e ajudá-la a nomear as experiências, quando ainda não consegue fazer sentido delas.
Crie espaço para a criança se expressar
Por exemplo, crianças mais extrovertidas e conversadoras necessitam que os pais lhes dediquem mais tempo para os ouvirem contar todas as suas novidades, sonhos, ideias, etc. Por vezes, podem tornar-se um pouco cansativas ou exigentes, sobretudo depois de um dia de trabalho complicado. Uma estratégia para que estas crianças se sintam apoiadas sem que os pais entrem em burnout, pode passar por atribuir algumas das tarefas de fim de dia à criança para que ela possa ir ajudando enquanto vai conversando com os pais.
Por outro lado, as crianças mais introvertidas, têm maior tendência a isolar-se e a recusar-se a falar sobre os seus sentimentos e preocupações, podendo reagir negativamente se se sentirem pressionadas para partilhar as suas angústias.
Por vezes é útil usar um meio de mediação, como por exemplo, criar um diário de emoções com a criança, no qual possam desenhar a forma como se sentiram durante o dia que passou e, a partir daí conversar sobre o que aconteceu para que se sentissem assim e o que podia ter sido diferente. É importante que o adulto também participe de forma honesta, pois mostra à criança que é natural ter emoções positivas e negativas e que todos lidamos com algumas dificuldades. Naturalmente, não estaremos a sobrecarregar a criança com os problemas do adulto, mas a dar alguns exemplos simples que a ajudem a compreender e a empatizar. Por exemplo “hoje senti-me muito irritada porque perdi o autocarro e cheguei atrasada ao trabalho.”
Utilize o jogo
Para a criança, o brincar é como um ensaio da vida real. Através do jogo, a criança dramatiza os seus conflitos e explora, de forma segura, alternativas de resolução dos mesmos. Procure introduzir o tema que causa ansiedade à criança nas vossas brincadeiras e deixe que seja ela a guiar-vos pelos caminhos da fantasia, rumo às soluções possíveis.
Não evite nem sobreproteja
A reacção mais comum das crianças às situações que lhes causam medo é evitá-las. Isto pode condicionar seriamente a vida familiar quando os pais se tornam aliados da estratégia para tentar poupar a criança de se angustiar. Deixar a criança faltar à escola um dia porque se sente muito ansioso, não ir dormir a casa do colega porque tem receio de deixar os pais sozinhos, ou não ir ao parque porque passeiam lá muitos cães, parecem ser soluções práticas e rápidas para o conforto da criança, mas reforçam a noção de que existe um perigo verdadeiro e rapidamente a criança vai generalizar este comportamento a outras situações até que a sua vida e a da restante família se torna insustentável.
Não se trata de forçar violentamente a criança a enfrentar as situações, mas em tranquilamente, explicar que existem situações que não são opcionais – como a frequência da escola, uma visita ao médico, etc. e outras que são negociáveis, mas que são momentos de prazer para a criança e que ela não se deve privar por causa do medo, uma vez que é possível ultrapassá-lo.
Ajude-os a explorar o medo de forma segura
Incentive a criança a ultrapassar os seus receios progressivamente e ao seu ritmo. Se a criança tem medo de cães, por exemplo, pode ir-se familiarizando com os cães em fotografias e desenhos, posteriormente, ir vê-los no parque à distância e, quando se sentir preparada, pode ir visitar o cão de um amigo que seja bastante calmo. Peça opinião á criança sobre estratégias para ir conquistando o medo e vai surpreender-se com a velocidade com que esta sugere ideias e toma as rédeas do seu próprio processo de independência.
Utilize um objecto de conforto
Um objecto de conforto pode transmitir uma maior segurança á criança quando esta se sente ansiosa. Por vezes, podemos ficar receosos de que a criança fique dependente desta estratégia para enfrentar os seus medos, mas com uma dose de bom senso, é possível utilizá-la com bastante sucesso.
Os objectos de conforto não se limitam apenas aos brinquedos de peluche e bonecos fofinhos aos quais a criança se apega. Podemos também ter objectos de conforto mais orientados para a acção, como por exemplo, uma criança que tem medo do escuro poderá ter uma lanterna em vez de uma luz de presença. Isto permite que seja a criança a controlar e a direccionar a luz quando sente que precisa dela. Outro exemplo bastante comum, é o spray anti-monstros com o qual as crianças borrifam a parte de baixo da cama ou o guarda-vestidos antes de se deitarem. Estes objectos não deverão ser encarados como solução definitiva para o problema, mas sim como uma ferramenta auxiliar temporária.
Esteja atento à informação que chega à criança
Tenha um papel activo no entretenimento e construção de saber dos seus filhos. Á medida que a criança entra na fase escolar e posteriormente na adolescência, esta tarefa torna-se cada vez mais complicada, pelo que é muito importante não só acompanhar a informação que a criança recebe, como estimular desde muito cedo, o sentido crítico da criança relativamente ao mundo que a rodeia.
Acompanhe o ritmo da criança
Cada criança é um indivíduo único e irrepetível e, o que para uns é natural e prazeroso, para outros pode ser um verdadeiro pesadelo. Há crianças que são naturalmente sociáveis e que adoram novos desafios e outras que são mais reservadas ou que precisam de mais tempo para se adaptar às mudanças. Procure respeitar a maneira de ser da criança e adaptar-se ao seu ritmo.
Celebre as tentativas de ultrapassar a situação
Celebre com a criança todas as suas tentativas para conquistar o medo. Todos sabemos que é complicado arriscar e colocarmo-nos em situações desconfortáveis. É vital para a criança que esse esforço seja valorizado (quer produza resultados ou não) e que esta se sinta apoiada por parte dos pais. Desta forma poderá construir uma base segura, a partir da qual possa arriscar novas tentativas. O processo de autonomização é, como tantos outros, feito de avanços e recuos. É necessário assegurar à criança que os retrocessos, quando ocorrem, são naturais e fazem parte do percurso.
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